terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A TERCEIRIZAÇÃO DO AFETO

O estilo de vida moderno fez da vida das grandes cidades e até mesmo algumas pequenas um verdadeiro caos. Caos no sentido da programação diária, de que horas devemos almoçar, qual hora devemos dormir, praticar exercícios, trabalhar, estudar, enfim... a vida virou uma bagunça com o advento da globalização que acelerou tudo, incluindo o funcionamento do nosso psiquismo que não se adaptou a essas mudanças.
Ao meu entender esse estilo de vida primeiramente parecia ser algum tipo de resposta ao comportamento evolucionista do ser humano, que passou a realizar cada vez mais atividades em seus âmbitos, que recheados de tecnologia e entretenimento aparentavam que a vida seria mais prazerosa, uma vez que o objetivo da tecnologia era aumentar a nossa qualidade de vida nos permitindo ter mais tempo para nós, porém não foi isso que aconteceu. Vivemos cada vez entupidos de afazeres, com cada vez menos tempo com nós mesmos e esse auto-desamparo nos faz ativar alguns mecanismos comportamentais que muitas vezes estão anexados ao maior instrumento simbólico já existente na face da terra. O dinheiro.
Estar consigo mesmo implica pensar em nossas vidas, nossos conflitos, fantasias, frustrações, desejos, lembranças, enfim, nos faz olhar pra dentro de nós e ver o quanto estamos despreparados para isso. Para suprimir esse momento estamos vivendo a fase da terceirização do afeto.
Terceirizar ao meu entender significa colocar nas mãos de terceiros (pessoas ou coisas) os cuidados que não consigo oferecer a mim mesmo, e para ilustrar isso vemos a diversidade de procuras que realizamos durante nossos momentos de solidão. Citarei alguns exemplos:
• As compras sem necessidade em lojas, galerias e shoppings
• O consumo de alimentos
• Uso da abusivo da Internet, software de celulares, iphone, etc
Seriam possíveis muitos exemplos para exemplificar essa necessidade de terceirização do afeto que ao meu entender está diretamente associado a dificuldade que temos de estar consigo mesmo, de entrar em contato com o nosso mundo interno e suportar o que vem de dentro de nós, ainda que não seja a melhor sensação possível. Olhar pra dentro e conseguir discriminar o que nos faz terceirizar o nosso desejo de afeto também pode nos ajudar a melhorar a nossa tão difícil situação financeira.
Acredito muito na importância das emoções em nossas vidas e emoções que não são compreendidas também mexem em nossos bolsos a curto, médio e longo prazo e a procura por melhores condições econômicas muitas vezes está dentro de nós, dentro daquele que conhece suas emoções e as compreende bem.