terça-feira, 12 de outubro de 2010

O TRAFICANTE

Freud ao meu entender e de muitos, deixou um vasto legado relacionado ao a compreensão do funcionamento psíquico do homem e da etiologia de suas neuroses. Estudiosos da psicologia e psicanálise continuaram observando a dinâmica deste funcionamento e vem descobrindo características do funcionamento mental.
Como gosto de subsidiar através destes teóricos sobre o que intervenho e escrevo e pretendo relatar neste breve artigo algumas considerações (hipotéticas) que venho levantando a respeito do Traficante.
Entrevistando os adolescentes envolvidos com o tráfico de drogas na medida sócioeducativa, percebo algumas características evidenciadas em seu discurso. Para descrever um pouco sobre essas considerações, primeiramente é preciso falar sobre a atuação do traficante. O que faz, como faz e onde faz? Como chega a seu cliente e o que faz para conquistá-lo?
A meu ver o traficante é aquele que:
• Fornece um produto que causa transtorno para o sujeito, sua família e o estado sem o cometimento da justiça;
• Ele não compra o produto que vende;
• É um sujeito que se esconde nas fendas da sociedade para praticar seu delito;
• Costuma atuar em locais estratégicos, acolhendo aquele que não foi devidamente acolhido em seu contexto;
• Age como um manipulador de seu cliente e o conquista através de ofertas cada vez mais sedutoras, pois seu produto oferece o que promete sem omitir informações, ou seja, atua utilizando o marketing de fidelidade com o seu procurador.
A ação do traficante me faz acreditar que este sujeito encontrou um modo de agir no mundo que lhe satisfaz a partir do sofrimento do outro. O traficante é aquele que oferece a destruição ao outro. Seu produto são “granadas” entregues nas mãos de seus clientes que o levarão ao suicídio em curto, médio ou longo prazo.
Diante desta consideração supracitada, enxergo na psicanálise uma forma de justificar seu funcionamento psicodinâmico. Para isso, vou utilizar da teoria do desenvolvimento psico-sexual postulado por Freud em seus manuscritos.
Segundo a psicanalista Melanie Klein, a ligação da pessoa com a criminalidade está vinculada às relações primitivas que o bebê vivenciou. Para esta autora, as teorias sexuais formam a base da maioria das fixações sádicas e primitivas do sujeito.
Minha análise a respeito do indivíduo envolvido com o tráfico de drogas me faz acreditar que este sujeito parece ter se fixado na fase anal, e características de seus atos ilícitos me levam a entender que existem associações entre o tráfico de drogas e o bebê que entre os seus 2 a 4 anos de idade encontrou uma forma absurda de obter prazer, controlando suas fezes. Confesso não ter interesse neste artigo em descrever como se dá este desenvolvimento e as implicações das fases oral, anal e fálica, mas acredito que as implicações do desenvolvimento psico-sexual ocasiona desdobramentos da criança que posteriormente se torna um indivíduo em conflito com a lei.
O traficante é aquele que não come as próprias fezes, entretanto “brinca” com estas em um jogo sádico que faz o que quer com aquele que vem buscar seu produto. Aparentemente, o prazer obtido pode ser associado à mãe, pois é esta quem o limpa, ou seja, é o viciado que recolhe as drogas que ele oferece.
Talvez seja o que o traficante tem a oferecer, seu conteúdo destrutivo, suas bombas que destroem famílias, trazem mal cheiro as relações entre o sujeito viciado e o mundo.
Esse jogo de controle sobre o outro através da droga (entenda-se excrementos) é praticado de forma prazerosa, eu diria que uma forma lúdica de utilizar o outro para bel prazer, para a satisfação de algo que foi realizado durante tenra infância e do qual se sente saudades das sensações vividas há tempos. Digo isso porque a cronicidade do tempo do inconsciente é marcada por um tempo vivenciado dentro do mundo interno de cada sujeito, ou seja, pode-se entender que a atemporalidade é a marca que endossa meu raciocínio a respeito da busca dessas sensações passadas.
As sensações são re-vivenciadas no presente e os benefícios conquistados o impedem (ou dificultam) de deixar de praticar tal ato. Cito aqui os jovens que chegam a idade adulta, passam a responder como tal e não interrompem a prática deste delito.
O tráfico é um fim em si mesmo, deixando o outro de lado nesse ato, o que faz do traficante um manipulador das relações interpessoais quais vivencia com seu cliente.