terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mas afinal de contas, o que é o hospital? Não se trata apenas de conceituar seus propósitos científicos, éticos ou morais, mas também o levantamento de considerações sobre expectativas interesses, necessidades que as pessoas têm a seu respeito. Quando se atua em uma instituição muito se perde ao se envolver afetivamente com seus membros do local, entretanto os afetos estabelecidos também abrem portas para a compreensão de discursos interessantes que expressam o que funcionários compreendem a respeito do que se propõe a fazer, entretanto quero neste breve artigo expressar minhas impressões sobre quem freqüenta o hospital, descrevendo alguns aspectos que promovem o sofrimento emocional nas famílias e pacientes. O primeiro aspecto a ser levantado é o adoecimento... Mas que diabos pode-se entender disso? Diante da escuta especializada o que se observa do adoecimento(dentro do referencial psicossocial) é uma gama de aspectos os quais se misturam e evidenciam no sujeito seus aspectos infantis, regredidos ou mesmo a falta de qualquer tipo de recurso interno para vivenciar e enfrentar a hospitalização. A “mistura” a qual foi citada no parágrafo anterior tem sido por mim ouvida das seguintes formas: primeiramente a luta contra a proximidade da morte uma vez que o hospital está diretamente associado ao término da vida, pois as pessoas que o freqüentam esqueceram-se de que a vida também inicia ali, na maternidade junto aos sentimentos nobres que os bebês despertam em nós humanos. Junto a isso observa-se também as representações que o adoecimento físico causará a vida do adoentado que impotente deixará suas responsabilidades e pendências a mercê de um outro a quem pode não estar apropriado da importância desta vida que temporariamente está privada em uma instituição. Além das representações que o sujeito apresenta sobre o seu adoecimento também existe as representações que ele possui a respeito do hospital, e do hospital o qual está internado, motivo esse gerador de diversas fantasias a respeito de seu prognóstico. Tais colocações são sensíveis geradores de ansiedade e angústia para quem freqüenta o hospital, sendo assim, acredito eu na necessidade de um trabalho psicoeducativo, trabalho este que mais do que informar, ESCLARECE o que está sendo, o que será e o que se dará do tratamento oferecido ao cliente hospitalar. Instalar-se no hospital para buscar o mínino reequilíbrio é para muitos uma vivência psicótica, pois o adoentado ao adentrar nos costumes da equipe médica, equipe de enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia passam a conviver com os seus procedimentos e técnicas, práticas que são de total desconhecimento e que atreladas a cultura da empresa deixam o indivíduo imerso em uma realidade da qual não se apropria. Muito se associa a instituição hospitalar a um local especializado de terapias médicas, entretanto acredito em um viés muito importante que em muitos momentos se faz esquecer. Falo dos relacionamentos do hospital que estão distribuídos de diversas formas, uma vez que se dão entre paciente –médico, paciente – enfermagem, família – enfermagem, médico – família, entre tantos outros. Isso posto em prática também torna-se gerador de ansiedades nos pacientes quando estas relações não lhe são claras ou não lhe transmitem confiança. Imagine um sujeito queixando-se de dores, desprovido de suas vestes, distante de seu contexto e das pessoas que nele existem, próximo a outros com a mesma condição, em uma cama semelhante a um berço, desconhecedor do que lhe ocorre? Isso é um grande fragmento do hospital, uma vez que tal instituição é pautada primordialmente em suas relações e não somente um espaço de tratamento e recuperação.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O EVASOR

No hospital ocasionalmente me deparo com pacientes que ao não suportar a internação, que expressam o interesse em evadir da instituição.
Essa realidade não é freqüente no hospital, contudo percebo que ao adentrar na instituição ocasiona sensível mal estar nos funcionários que sentem-se frustrados e irritados com o paciente que também deve lá sentir sua hostilidade em relação a equipe.
Tenho observado que esse cliente quando aparece e procura fazê-lo, está no espaço do pronto-socorro, espaço este onde a dinâmica é pautada em desespero e insegurança frente ao que está sendo oferecido a respeito das terapias. È um setor da instituição onde há uma gama de troca de pacientes que são liberados enquanto outros internados.
O pronto-Socorro também é local de desconhecimento, de ignorância do que será feito com o paciente que ali está iniciando o seu processo de submissão frente as terapias que serão oferecidas a ele. Em determinadas ocasiões também é de desconhecimento da equipe uma vez que acabara de chegar ao hospital e que precisa de avaliações para buscar então as melhores intervenções para ajudá-lo.
Cabe salientar que o PS, não há participação intensa da família se o paciente tiver menos de 60 anos, condição esta que intensifica o desamparo do internado que ao estar sem conhecidos, sente a solidão e o desespero de forma visceral.
Devido à dinâmica em que o trabalho se dá no PS, é perceptível notar o quanto a equipe possui baixa tolerância em acalmar o paciente e explicar de forma disponível o que está sendo realizado com ele, para que assim compreenda o que a equipe de saúde pretende oferecer. Atrela-se aí a figura do médico que mostra-se interessado em cuidar somente da patologia do paciente, sendo que se esquece totalmente do sujeito integrado que vem ao hospital e dos sentimentos decorrentes que a hospitalização pode promover.
Esclarecidas algumas questões que permeiam o contexto do hospitalizado no PS, cabe agora ressaltar alguns traços psíquicos destes evasores.
Nota-se que a dificuldade em administrar a própria ansiedade e os temores quais o mesmo desconhece no momento, são fatores que o faz sofrer em demasia no hospital. Parece-me que há uma espécie de osmose frente ao sofrimento de outros que estão ao seu lado, uma absorção do desespero do outro que passa ser seu, e o distanciamento destas pessoas as quais introjetou o desespero, é desencadeador de fuga destes pacientes “fujões”.
Recursos egóicos pouco desenvolvidos, associados a baixa tolerância a frustração são traços marcantes deste público. Existem casos em que o paciente mostra-se onipotente frente ao que está sendo oferecido, utilizando do mecanismo de negação de sua condição que associado a minimização do que lhe trouxe ao hospital parecem formar o espectro da personalidade do evasor do hospital.
Também há que se ressaltar o modo como esta pessoa vivência situações de cuidados a ele, demarcando assim o quão dolorido é perceber que no hospital estamos completamente impotentes.
Acredito que seja por essência, um sujeito impaciente, com relacionamento interpessoal extremamente prejudicado e que possui delicado histórico de vida, pois é através das vivências gratificantes na infância, é que adquirimos possibilidade de vivenciar situações frustrantes com coragem e empenho.
Quando aparecem pacientes idealizadores de evasão, o psicólogo costuma ser convocado a lidar com toda a angústia deste tipo de paciente e da equipe que se mostra impotente em ajudá-lo. E quão IMPOTENTE é lidar com tais figuras, pois será que é possível ajudar alguém em 30 minutos,sendo que há por trás deste paciente uma história que o faz não administrar tal situação? São questionamentos os quais não me atrevo a responder.
Sei que o evasor nos faz entrar em contato com a nossa agressividade interna se não administrarmos nossa própria hostilidade, podemos nos fazer mal e alterar a configuração do que almejamos no hospital a respeito da humanização.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Ser Psicólogo



Profusão de vãs idéias
Com origens na mocidade,
Trazendo seres insanos
Para o seio da sociedade.

Lindos entes, de repente,
Profanados pela mente
Se espalham pela cidade
Como elos de uma corrente,

Aturdidos pela alma
Lucidez está ausente
Quem ousa saber a causa
Dos desvios destas mentes?

Como no início em que o dom se esmera
É preciso muita espera
Municiar a mente
Folhear livros diferentes, e
Como se artistas fôra
Pintar com a razão o obscuro mundo incoerente.
Diferentes, conturbados,
Prisioneiros da agonia
Cabe a quem pô-los em sintonia?
O poema é uma homenagem
Aos artífices da Psicologia.

Suas ações em andamento
Buscam sempre dar alento
A uma mente em julgamento.
Aprofundam-se aos limites do insano
Na perplexidade do subterrâneo da mente,
Sempre existe um atalho…
Me emociona esse tema
Ao falar de seu trabalho.
Encerrando esse poema
Sintetiza tudo o prólogo
Que o Senhor do universo
Ao criar a mente humana
Fez melhor,
O Psicólogo

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ciência que estuda as formas como o homem lida com as perdas

Atuando em uma nova instituição pública

Minhas andanças dentro das instituições públicas sempre me fazem pensar e analisar diversos processos psicológicos que costumam se repetir no discurso e conduta de seus clientes. Acredito que as instituições me fazem aguçar a escuta clínica fato este que parece também ajudar a compreender o ser humano de forma integrada, pois estar em uma instituição é em muitos momentos relacionar-se profissionalmente através de trocas com profissionais de várias áreas, espaço este promovedor de enriquecimento educacional, pessoal, profissional e principalmente relacional! Há aproximadamente um ano venho atuando como psicólogo hospitalar em um hospital público no interior do Vale do Paraíba,São Paulo, e dentro desta pouca experiência, pretendo compartilhar as minhas observações a respeito de diversos aspectos psíquicos que envolvem os pacientes, suas famílias e todo o corpo funcional hospitalar neste Blog. Como me conheço, acredito que o perfil psicológico do internado, as dinâmicas relacionais entre família e paciente e os sentimentos envolvidos na hospitalização serão pautas recorrentes em meus breves artigos.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Medida Socioeducativa de Internação e cuidados paliativos

Ao terminar meu período atuando como analista técnico/psicólogo na FUNDAÇÃO CAS pude levantar diversas considerações a respeito do público atendido por esta instituição, bem como a sua composição e dinâmica familiar destes membros e todo o histórico que acompanha o sujeito privado de sua liberdade.
Neste breve artigo pretendo descrever minhas últimas considerações a respeito da medida sócioeducativa, e consequentemente das políticas públicas brasileiras.
Pois bem, a pouco tempo passei a atuar como psicólogo hospitalar e iniciando o trabalho nesta nova empreitada, passei a fazer algumas associações entre determinados espaços desta Instituição e a Fundação CASA. Atuando com os familiares nos setores que atendem os pacientes hospitalizados crônicos, muitas vezes a batalha pela vida infelizmente não obtinha o resultado desejado pela família e em muitos momentos a gravidade dos casos atendidos é tão grave que só resta prestar os cuidados paleativos.
Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 2002 como uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas, todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual.

O tratamento em Cuidados Paliativos deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça à vida para pacientes e familiares.

Para este trabalho ser realizado é necessário uma equipe mínima, composta por: um médico, uma en¬fermeira, uma psicóloga, uma assistente social e pelo menos um profissional da área da reabilitação (a ser definido conforme a necessidade do paciente). Todos devidamente treinados na filosofia e prática da paliação.
Associando este corpo funcional ao da FUNDAÇÃO CASA, nota-se a semelhança no quadro profissional, e a tentativa de reestabelecer a vida e de oferecer respeito e dignidade ao ser humano e possibilidades de existência e recuperação.
Recuperação, eis uma palavra que todo o corpo funcional tem como objetivo na medida sócioeducativa, é o de retirar o sujeito do meio delitivo e oferecer-lhe novas possibilidades pedagógicas, sociais e porque não psicológicas? Ao meu entender, a medida socioeducativa de internação procura fomentar as possibilidades, retirar o indivíduo da pulsão de morte a qual está imerso uma vez que a criminalidade possui uma premissa de repetição do ato que lhe traz prazer a si mesmo e desprazer ao outro, e que ao mesmo tempo lhe traz malefícios, tal como o risco de privação da própria liberdade.
Diante do exposto, se percebe uma complexa questão... o funcionário detento de desejo pela recuperação, ou melhor isenção do meio delitivo de seu cliente, realiza seu trabalho com dedicação e empenho procurando respeitar os interesses do indíviduo, contudo o público atendido em poucos momentos tem o mesmo desejo que todo o corpo funcional, e ai nota-se um severo conflito neste trabalho.
Talvez seja por isso que o índice de jovens “recuperados” é baixo, assim como ocorre com os pacientes crônicos que necessitam de cuidados paliativos onde estes são realizados com o intuito de oferecer respeito, dignidade e os direitos que todo ser humano possui em sua vida, entretanto, o meu olhar (leia-se experiência) sobre esse fenômeno do jovem envolvido com a criminalidade mostra que poucos adolescentes estão realmente interessados em buscar outras possibilidades para si.
Afinal, a responsabilidade por todo esse contexto é de quem? Não acredito que exista uma simples resposta pra essa questão e vou declarar as minhas observações sobre isso:
Ao cumprir a medida socioeducativa de internação, observamos que a dinâmica familiar não mudou, além disso não existe mais a estruturação triangular em todas as famílias e decorrente dessas mudanças há um nova estruturação de paradigmas na família do adolescente, e os responsáveis pelas crianças parecem não estar assimilando seu papel. Diante disso, quem deve fazer algo? Acredito que o estado e as ciências humanas através da prevenção;
As ciências exatas vêm desenvolvendo grandes possibilidades para as pessoas, conforto, tecnologia, satisfação, etc, entretanto percebo que as ciências humanas precisam ajustar-se a as demandas da sociedade. Eu que pude atuar com medidas sócioeducativas me questiono... e se a escola tivesse o mesmo corpo funcional que a FUNDAÇÃO CASA?
E se as creches, instituições públicas de acesso a baixas camadas tivessem um grupo de profissionais que assistissem as demandas biopsicossociais das famílias? Acredito que poderíamos pensar em possibilidades diversas para nossas crianças e adolescentes e a Fundação CASA não teria assim o objetivo de oferecer o que já deveria ter sido oferecido durante a tenra infância destes adolescentes que “freqüentam” este Centro Socioeducativo.
Isso posto em prática colocaria em questão a prática das políticas públicas através de práticas preventivas, mas convenhamos, este é um pensamento utópico, mas se concretizado em ações do Estado poderia prevenir muitos problemas que enfrentamos na sociedade.
Se almejamos um Brasil justo e forte economicamente, precisamos pensar num povo instruído e psicossocialmente potente, pois o que pude presenciar (e acredito que muitos outros também o tem feito) é enxergar estes jovens como pessoas em estado Terminal, aguardando a proximidade com o fim de sua vida ou posterior reclusão por período maior.