sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Medida Socioeducativa de Internação e cuidados paliativos

Ao terminar meu período atuando como analista técnico/psicólogo na FUNDAÇÃO CAS pude levantar diversas considerações a respeito do público atendido por esta instituição, bem como a sua composição e dinâmica familiar destes membros e todo o histórico que acompanha o sujeito privado de sua liberdade.
Neste breve artigo pretendo descrever minhas últimas considerações a respeito da medida sócioeducativa, e consequentemente das políticas públicas brasileiras.
Pois bem, a pouco tempo passei a atuar como psicólogo hospitalar e iniciando o trabalho nesta nova empreitada, passei a fazer algumas associações entre determinados espaços desta Instituição e a Fundação CASA. Atuando com os familiares nos setores que atendem os pacientes hospitalizados crônicos, muitas vezes a batalha pela vida infelizmente não obtinha o resultado desejado pela família e em muitos momentos a gravidade dos casos atendidos é tão grave que só resta prestar os cuidados paleativos.
Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 2002 como uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas, todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual.

O tratamento em Cuidados Paliativos deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça à vida para pacientes e familiares.

Para este trabalho ser realizado é necessário uma equipe mínima, composta por: um médico, uma en¬fermeira, uma psicóloga, uma assistente social e pelo menos um profissional da área da reabilitação (a ser definido conforme a necessidade do paciente). Todos devidamente treinados na filosofia e prática da paliação.
Associando este corpo funcional ao da FUNDAÇÃO CASA, nota-se a semelhança no quadro profissional, e a tentativa de reestabelecer a vida e de oferecer respeito e dignidade ao ser humano e possibilidades de existência e recuperação.
Recuperação, eis uma palavra que todo o corpo funcional tem como objetivo na medida sócioeducativa, é o de retirar o sujeito do meio delitivo e oferecer-lhe novas possibilidades pedagógicas, sociais e porque não psicológicas? Ao meu entender, a medida socioeducativa de internação procura fomentar as possibilidades, retirar o indivíduo da pulsão de morte a qual está imerso uma vez que a criminalidade possui uma premissa de repetição do ato que lhe traz prazer a si mesmo e desprazer ao outro, e que ao mesmo tempo lhe traz malefícios, tal como o risco de privação da própria liberdade.
Diante do exposto, se percebe uma complexa questão... o funcionário detento de desejo pela recuperação, ou melhor isenção do meio delitivo de seu cliente, realiza seu trabalho com dedicação e empenho procurando respeitar os interesses do indíviduo, contudo o público atendido em poucos momentos tem o mesmo desejo que todo o corpo funcional, e ai nota-se um severo conflito neste trabalho.
Talvez seja por isso que o índice de jovens “recuperados” é baixo, assim como ocorre com os pacientes crônicos que necessitam de cuidados paliativos onde estes são realizados com o intuito de oferecer respeito, dignidade e os direitos que todo ser humano possui em sua vida, entretanto, o meu olhar (leia-se experiência) sobre esse fenômeno do jovem envolvido com a criminalidade mostra que poucos adolescentes estão realmente interessados em buscar outras possibilidades para si.
Afinal, a responsabilidade por todo esse contexto é de quem? Não acredito que exista uma simples resposta pra essa questão e vou declarar as minhas observações sobre isso:
Ao cumprir a medida socioeducativa de internação, observamos que a dinâmica familiar não mudou, além disso não existe mais a estruturação triangular em todas as famílias e decorrente dessas mudanças há um nova estruturação de paradigmas na família do adolescente, e os responsáveis pelas crianças parecem não estar assimilando seu papel. Diante disso, quem deve fazer algo? Acredito que o estado e as ciências humanas através da prevenção;
As ciências exatas vêm desenvolvendo grandes possibilidades para as pessoas, conforto, tecnologia, satisfação, etc, entretanto percebo que as ciências humanas precisam ajustar-se a as demandas da sociedade. Eu que pude atuar com medidas sócioeducativas me questiono... e se a escola tivesse o mesmo corpo funcional que a FUNDAÇÃO CASA?
E se as creches, instituições públicas de acesso a baixas camadas tivessem um grupo de profissionais que assistissem as demandas biopsicossociais das famílias? Acredito que poderíamos pensar em possibilidades diversas para nossas crianças e adolescentes e a Fundação CASA não teria assim o objetivo de oferecer o que já deveria ter sido oferecido durante a tenra infância destes adolescentes que “freqüentam” este Centro Socioeducativo.
Isso posto em prática colocaria em questão a prática das políticas públicas através de práticas preventivas, mas convenhamos, este é um pensamento utópico, mas se concretizado em ações do Estado poderia prevenir muitos problemas que enfrentamos na sociedade.
Se almejamos um Brasil justo e forte economicamente, precisamos pensar num povo instruído e psicossocialmente potente, pois o que pude presenciar (e acredito que muitos outros também o tem feito) é enxergar estes jovens como pessoas em estado Terminal, aguardando a proximidade com o fim de sua vida ou posterior reclusão por período maior.

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