quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O EVASOR

No hospital ocasionalmente me deparo com pacientes que ao não suportar a internação, que expressam o interesse em evadir da instituição.
Essa realidade não é freqüente no hospital, contudo percebo que ao adentrar na instituição ocasiona sensível mal estar nos funcionários que sentem-se frustrados e irritados com o paciente que também deve lá sentir sua hostilidade em relação a equipe.
Tenho observado que esse cliente quando aparece e procura fazê-lo, está no espaço do pronto-socorro, espaço este onde a dinâmica é pautada em desespero e insegurança frente ao que está sendo oferecido a respeito das terapias. È um setor da instituição onde há uma gama de troca de pacientes que são liberados enquanto outros internados.
O pronto-Socorro também é local de desconhecimento, de ignorância do que será feito com o paciente que ali está iniciando o seu processo de submissão frente as terapias que serão oferecidas a ele. Em determinadas ocasiões também é de desconhecimento da equipe uma vez que acabara de chegar ao hospital e que precisa de avaliações para buscar então as melhores intervenções para ajudá-lo.
Cabe salientar que o PS, não há participação intensa da família se o paciente tiver menos de 60 anos, condição esta que intensifica o desamparo do internado que ao estar sem conhecidos, sente a solidão e o desespero de forma visceral.
Devido à dinâmica em que o trabalho se dá no PS, é perceptível notar o quanto a equipe possui baixa tolerância em acalmar o paciente e explicar de forma disponível o que está sendo realizado com ele, para que assim compreenda o que a equipe de saúde pretende oferecer. Atrela-se aí a figura do médico que mostra-se interessado em cuidar somente da patologia do paciente, sendo que se esquece totalmente do sujeito integrado que vem ao hospital e dos sentimentos decorrentes que a hospitalização pode promover.
Esclarecidas algumas questões que permeiam o contexto do hospitalizado no PS, cabe agora ressaltar alguns traços psíquicos destes evasores.
Nota-se que a dificuldade em administrar a própria ansiedade e os temores quais o mesmo desconhece no momento, são fatores que o faz sofrer em demasia no hospital. Parece-me que há uma espécie de osmose frente ao sofrimento de outros que estão ao seu lado, uma absorção do desespero do outro que passa ser seu, e o distanciamento destas pessoas as quais introjetou o desespero, é desencadeador de fuga destes pacientes “fujões”.
Recursos egóicos pouco desenvolvidos, associados a baixa tolerância a frustração são traços marcantes deste público. Existem casos em que o paciente mostra-se onipotente frente ao que está sendo oferecido, utilizando do mecanismo de negação de sua condição que associado a minimização do que lhe trouxe ao hospital parecem formar o espectro da personalidade do evasor do hospital.
Também há que se ressaltar o modo como esta pessoa vivência situações de cuidados a ele, demarcando assim o quão dolorido é perceber que no hospital estamos completamente impotentes.
Acredito que seja por essência, um sujeito impaciente, com relacionamento interpessoal extremamente prejudicado e que possui delicado histórico de vida, pois é através das vivências gratificantes na infância, é que adquirimos possibilidade de vivenciar situações frustrantes com coragem e empenho.
Quando aparecem pacientes idealizadores de evasão, o psicólogo costuma ser convocado a lidar com toda a angústia deste tipo de paciente e da equipe que se mostra impotente em ajudá-lo. E quão IMPOTENTE é lidar com tais figuras, pois será que é possível ajudar alguém em 30 minutos,sendo que há por trás deste paciente uma história que o faz não administrar tal situação? São questionamentos os quais não me atrevo a responder.
Sei que o evasor nos faz entrar em contato com a nossa agressividade interna se não administrarmos nossa própria hostilidade, podemos nos fazer mal e alterar a configuração do que almejamos no hospital a respeito da humanização.