sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O sofrimento do adolescente na medida sócioeducativa de Internação

Ao atuar como psicólogo na Fundação CASA costumo observar o quanto certas características comportamentais do jovem podem ajudá-lo a elaborar novas possibilidades desvinculadas da criminalidade. Neste novo artigo pretendo relatar sobre a importância do sofrimento na medida sócioeducativa de Internação.
Enquanto profissional que prega o olhar sobre o sofrimento psíquico e as implicações deste sofrimento na vida do sujeito, costumo observar o quanto o adolescente atua na sua medida e o quanto sofre no seu cumprimento.
Parece-me que o sofrimento pode ser um mecanismo proveitoso para o sócioeducador e adolescente. Para o adolescente pode ser benéfico, pois ao encarar suas angústias e desespero E SUPORTÁ-LAS, pode através de sua crise psíquica buscar novos caminhos para si, além de dar novos sentidos à liberdade, ao vinculo familiar, as atividades lícitas quais praticava antes de receber a medida punitiva, protetiva ou a re-socialização, ou seja, o sofrimento promove uma resignificação de suas ligações objetais. Para o sócioeducador, uma forma de olhar o adolescente de forma compreensiva e obter recursos para orientá-lo sobre as implicações de suas ações enquanto esteve liberto.
Acredito que o sofrimento se bem explorado pelo psicólogo, pode ajudar o adolescente a transformar em palavras aquilo que existe internamente no jovem, porém muitas vezes não é nominado por ele. Exemplos para contextualizar essa realidade não faltam: o pedido do jovem em ter a proximidade de seus genitores que muitas vezes mostram-se distante ou desinteressados pelo filho, a tentativa de tornar-se visível, pois a segregação social também é motivo de sofrimento para a adolescência, tendo em vista as “normais” implicações dessa fase da vida do sujeito.Enfim, motivos existem e abordá-los com respeito e atenção é um bom recurso para quem trabalha com adolescente em conflito com a lei.
Tenho percebido que para fugir do desespero da privação de liberdade, o adolescente utiliza alguns os mecanismos de defesa do ego, que funcionam como uma resistência do jovem ao encarar a conseqüência de suas ações e os desdobramentos de uma privação de liberdade. Entendo que o jovem que suporta seu sofrimento fornece recursos para todo o corpo funcional que o acompanha.
Sofrer torna-se, portanto o primeiro mecanismo para quem busca eximir-se do meio delitivo. Só a crise pode ajudar o sujeito a buscar novas saídas para si, só o sofrimento pode levar a pessoa a reparar os danos que causou a sua família e a si mesmo, só o sofrimento pode começar um processo que ajuda o jovem a eximir-se da criminalidade.
Citarei um famoso texto de Einstein sobre a crise que pode me ajudar e clarificar minhas idéias sobre a importância da crise em nossas vidas:


Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar 'superado'.

Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que às soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."

Um caminho para a criatividade portanto, se estabelece a partir da angústia.

William Ribeiro